Há casos em que o tratamento com antidepressivos e psicoterapia pode não ser suficiente, principalmente quando a severidade da depressão é alta – quando há a presença de muitos sintomas, quando os sintomas são intensos ou quando a pessoa apresenta comorbidades.
Cerca de 30% das depressões são consideradas como “refratárias” – o que quer dizer houve a tentativa de tratamento com 2 ou mais antidepressivos diferentes, sem melhora significativa.
Isso não quer dizer que a pessoa não irá responder a outros antidepressivos ou que a psicoterapia não terá efeito. Na verdade, tratamentos que não consideram fatores diversos (como sono, gerenciamento do estresse, pessimismo, dor crônica etc.) é que acabam sendo ineficazes – não significando que a sua depressão não pode ser tratada!
Nesses casos onde o tratamento é mais difícil, ainda é possivel explorar mais outras alternativas:
Estimulação Magnética Transcraniana de Repetição (EMTr) #
A EMTr é uma técnica nova e segura para tratar a depressão sem a necessidade de cirurgia – assim como alguns outros procedimentos de neuromodulação.
A EMTr é feita com um aparelho que envia pequenas ondas magnéticas para certas partes do cérebro, ajudando a melhorar o humor e reduzir os sintomas da depressão. O tratamento é confortável e raramente causam alguma dor. Normalmente, são necessárias sessões diárias no início, havendo um espaçamento entre uma sessão e outra ao longo do tempo até o final do tratamento.
O número médio são de 20 sessões, e seu efeito não é imediato – necessitando de algumas sessões antes da percepção de resultados significativos.
Eletroconvulsoterapia (ECT) #
A eletroconvulsoterapia (ECT) é um tratamento médico usado principalmente para casos graves de depressão que não respondem aos medicamentos. Durante a ECT, breves impulsos elétricos são administrados no cérebro para induzir uma convulsão controlada. Isso é feito sob anestesia geral, para que o paciente não sinta dor.
Não se sabe exatamente como a ECT funciona, mas acredita-se que ela ajuda a “reiniciar” as conexões neurais mediadas pelos neurotransmissores, tornando a comunicação mais eficiente.
Apesar da curta duração dos choques elétricos na ECT (alguns segundos), as sessões podem durar até uma hora, considerados os preparativos para a sedação, o procedimento e a recuperação do paciente pós anestesia/procedimento. Normalmente, são necessários de 6-10 sessões para uma boa resposta ao tratamento.
Os efeitos colaterais mais comuns são:
- Confusão mental temporária após o procedimento.
- Comprometimento da memória, especialmente da memória recente.
- Dores de cabeça.
- Náuseas ou vômitos.
- Dores musculares ou rigidez.
- Aumento da frequência cardíaca durante o procedimento.
- Mudanças temporárias na pressão arterial.
É importante ressaltar que esses efeitos colaterais costumam ser temporários e geralmente desaparecem após algumas horas ou dias.
Fototerapia #
A fototerapia, também conhecida como terapia de luz, é um tratamento utilizado para combater a depressão sazonal e outros distúrbios do humor, como a bipolaridade. Consiste em expor o paciente a uma fonte de luz artificial, geralmente uma lâmpada de luz branca especial, por um período específico de tempo (por volta de 30-60 min) todos os dias.
Acredita-se que a exposição à luz brilhante ajude a regular os ritmos circadianos (sistema cerebral que controla o sono e a vigília) e os níveis de certos neurotransmissores no cérebro, melhorando o humor e os sintomas depressivos.
A fototerapia é considerada segura e geralmente bem tolerada, com poucos efeitos colaterais. É importante seguir as orientações do médico em relação à duração e intensidade da exposição à luz para obter os melhores resultados.
Outros #
Ainda há outros tratamentos que não são tão acessíveis ou disponíveis no Brasil (e até no mundo).
Estimulação do nervo vago (ENV) – Este tratamento que envolve a aplicação de pulsos elétricos suaves ao nervo vago ( localizado no pescoço), através de um gerador de pulsos implantado.
Estimulação cerebral profunda (ECP) – Trata-se de uma intervenção médica que envolve a implantação de eletrodos em áreas específicas do cérebro. Esses eletrodos emitem pulsos elétricos controlados para modular a atividade cerebral e tratar uma variedade de condições neurológicas, como doença de Parkinson, tremor essencial e distúrbios do humor.
Esketamina – Este é um medicamento anestésico, que foi desenvolvida para tratar a depressão resistente ao tratamento. Ela é administrada por via intranasal e atua de forma rápida. A esketamina tem como alvo o sistema glutamatérgico no cérebro, agindo de maneira diferente dos antidepressivos tradicionais.
Referências
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