Fatores de risco são características, circunstâncias ou comportamentos associados ao aumento da probabilidade de uma certa patologia ocorrer. Neste caso em específico, o que está em pauta são fatores que contribuem para a manifestação de sintomas que contribuem uma depressão clínica. Grande parte dos fatores a seguir tem íntima relação com as causas da depressão.
Problemas do sono – Ter problemas no ciclo de sono e vigília, como insônia (não conseguir dormir), hipersonia (sonolência excessiva) ou despertar e não conseguir voltar a dormir (insônia intermediária) também fazem parte do quadro sintomático da depressão. Porém, estudos apontam que desregulações do sono são fatores de risco para o desenvolvimento da depressão. Um apontamento importante é que o cansaço pela falta de sono compromete a ação da região pré-frontal do cérebro (região que fica atrás da testa), que tem funções de controle/regulação de emoções e pensamentos, assim como de raciocínio e atenção. Isso significa que o pessimismo se faz presente com muito mais intensidade na privação de sono, e o indivíduo sentirá muito mais dificuldade em lidar com questões complexas do dia a dia, resultando em maior estresse e raiva. Isso faz com que problemas no sono ganhem grande destaque: quanto mais cansaço, mais estresse e emoções negativas; por sua vez, o cansaço não permite que o estresse e emoções sejam manejadas de maneira adequada e razoável, aumentando ainda mais o estresse e negatividade.
Neuroticismo e pessimismo – Sendo considerado como um traço de personalidade, o neuroticismo é o tanto que o sujeito é impactado negativamente (baixa regulação emocional) por acontecimentos e situações. Essa característica tem forte relação com o pessimismo na depressão – característica importante para o desenvolvimento do quadro e do tratamento. Quanto mais impactado o indivíduo é, mais o mundo é visto como nocivo e desafiador, resultando na sensação de que não dará conta (incapacidade) e, consequentemente, mais catastrófico é a sua previsão de futuro (desesperança).
Eventos estressantes – Acontecimentos que geram muito estresse em pouco tempo – como um acontecimento traumático, uma doença grave, ou uma notícia desestabilizadora – ou que estressam por longos períodos – como estresse recorrente no trabalho, no relacionamento ou doenças crônicas – são importantes contribuintes para o desenvolvimento da depressão, conforme previsto pelo modelo que associa o estresse à depressão.
Falta de suporte social – Não ter com quem contar é um fator de risco importante para a manifestação de transtornos – assim como seu oposto pode ser uma importante medida preventiva. A presença de pessoas próximas e confiáveis é justamente a possibilidade de se compartilhar vivências e receber apoio emocional, garantido a sensação de segurança e esperança para lidar com os eventos dificultosos da vida. A ausência desse suporte remete a estar sozinho no mundo – ainda mais quando o mundo é visto como caótico e a pessoa se enxerga como incapaz e/ou vulnerável –, contribuindo para compreensões pessimistas e desesperança.
Genética – Diversos estudos apontam maior frequência de depressão quando há a presença do transtorno em parentes de primeiro grau, sendo a probabilidade em torno dos 30-40%. Porém, a complexidade da depressão não permite afirmar que há genes específicos que são responsáveis pelo transtorno. Ainda, é bem desafiador conseguir separar fatores ambientais (sociais) dos fatores genéticos – ou seja, determinar até que medida a depressão presente em irmãos gêmeos não foi responsável por fatores ambientais. De qualquer modo, o histórico familiar de depressão deve ser tido como um sinal de alerta para uma possivel predisposição a depressão.
Fatores de risco que contribuem para a recorrência da depressão ou para uma depressão persistente (além dos citados acima):
- Idade do primeiro episódio – Quanto mais jovem tiver ocorrido, maior o risco.
- Quantidade de episódios anteriores – Quanto mais episódios tiverem ocorrido, maior o risco.
- Severidade do episódio inicial – Quanto maior o número de sintomas, ideação suicida ou agitação psicomotora, maior o risco.
- Comorbidades – Presença de outras patologias e transtornos (principalmente o Transtorno Depressivo Persistente).
- Sintomas residuais – A presença de alguns sintomas (não sendo suficientes para o diagnóstico de depressão) após o tratamento.