Não é porque um(a) psicólogo(a) diz saber tratar depressão, que você está recebendo um tratamento especializado. Diferente dos tratamentos genéricos, um Tratamento Especializado para Depressão requer um profissional especializado que se fundamenta nos estudos científicos mais atuais e que compreende a verdadeira complexidade da depressão, tendo como prioridade a sua recuperação vital e funcional – voltar a caminhar em direção àquilo que é mais importante para você, e não a simples diminuição dos sintomas.
Leitura Essencial
A base psicológica é o fundamento teórico que os psicólogos(as) usam para compreender e tratar o sofrimento de cada indivíduo. A abordagem utilizada neste Tratamento Especializado para Depressão é a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT – Acceptance and Commitment Therapy) – uma linha mais atual da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) que também considera os aspectos existenciais da vivência humana, contando com uma grande variedade de estudos científicos.
O maior diferencial da ACT é que ela não foca no sintoma ou no combate a um pensamento ou sentimento. Através da Flexibilidade Psicológica, a terapia da ACT trabalha na sua relação com os seus pensamentos e sentimentos para que você comece a seguir, hoje, o caminho em direção àquilo que mais te importa, sem precisar ficar entrando em guerra consigo mesmo(a) – a batalha entre o que acontece e o que deveria acontecer.
O problema
Por causa da linguagem e da consciência, nós temos a incrível capacidade de trazer à mente qualquer situação – pensamentos, lembranças ou imaginação. Isso quer dizer, também, que temos uma infinita capacidade de trazer sofrimento a nós mesmos: basta ficar pensando em algo que te causa grande dor e desconforto.
Assim surge um grande PROBLEMA: temos a infinita capacidade de trazer sofrimentos a nós mesmos e, ainda, isso não está no nosso controle. Por exemplo: pensamentos de incapacidade/insuficiência, sentimentos de tristeza/ansiedade, lembranças desagradáveis ou traumáticas – tudo isso aparece na sua mente em determinadas situações, mesmo sem você querer. É justamente esse sofrimento que te impede de seguir a sua vida.
As consequências
A tentativa da maioria das pessoas é de tentar controlar o incontrolável: evitar entrar em contato com pensamentos, sentimentos, lembranças e situações. Drogas, medicamentos, distrações, dormir, não sair de casa, não tentar para não falhar, isolamento, procrastinar certos assuntos, não impor limites aos outros, não se expor para não ser julgado(a) etc., todas essas são tentativas de evitar entrar em contato com algo desconfortável e doloroso. Ou você está fazendo algo para evitar o sofrimento, ou está deixando de fazer para evitar entrar em contato com o sofrimento.
Isso acontece porque você está constantemente imerso (dentro, mergulhado) nos seus pensamentos – se deixando levar por eles e vivendo como se fossem certezas, verdades: “eu sou um fracasso”, “eu não sou capaz de lidar com isso”, “eu não posso falhar”, “os outros vão pensar que eu sou horrível/ridículo/incapaz”. Com toda essa imersão e evitação, aquilo que mais te importa acaba sendo prejudicado: família, amigos, relacionamentos, trabalho, estudos, lazer, aproveitar a vida, conquistar sonhos, ser quem você gostaria de ser.
As suas escolhas passam a ser baseadas em evitar o que você não quer entrar em contato, ao invés de se direcionar ao que você mais valoriza – e esse é o seu maior sofrimento!
A DEPRESSÃO aparece nesta dinâmica de ser levado pelos pensamentos, evitar o contato com o sofrimento (pensamentos, sentimentos, lembranças, situações) e não conseguir seguir o caminho que você gostaria (valores e objetivos) – processo que leva a uma vida sem movimento, estagnada. Com o tempo, você perde a esperança de um dia conseguir viver o que você gostaria, porque você já está esgotado(a) de brigar e tentar controlar pensamentos e sentimentos negativos, e não ter resultado. Então, você começa a desistir da vida.
É claro que essa estrutura aparece com diferentes “formas”, variando de pessoa para pessoa – uma depressão não é igual a outra, porque com a sua história e o seu jeito, só existe você.
A solução
Por isso, o tratamento é baseado nessa estrutura, compondo os aspectos da Flexibilidade Psicológica para modificar como você se relaciona com seus pensamentos e sentimentos em certas situações – já que não é possível controlar quando eles irão aparecer. Se eles não impedirem a sua caminhada na vida, então a presença deles não será mais um problema. E como isso é possível?
Esse é um movimento voluntário e contrário à evitação. Evitar algo indesejado não é ruim nem errado, o problema é quando o custo dessa evitação são seus objetivos e valores – um preço que gera muito mais sofrimento do que aquilo que você tem tentado evitar. Disponibilidade significa, então, estar disposto(a) a lidar com aquilo que você tem evitado – que, no fim, serão pensamentos e sentimentos.
Esse é o movimento de “dar um passo para trás” em relação as suas verdades sobre você e o mundo, sobre o que vai acontecer e o que aconteceu. Quanto mais imerso (dentro, mergulhado) no pensamento você está, mais ele irá te impactar e te tirar do eixo.
Ao se distanciar daquilo que você pensa, você consegue ver para onde está indo e tem a oportunidade de compreender o sentido daquele pensamento ou sentimento. Não é sobre determinar o que é verdadeiro ou falso, é sobre conseguir enxergar o seu pensamento de forma razoável, para então ter a atitude que você gostaria – porque o seu sofrimento tem muito mais a ver com aquilo que você acredita e o que você faz a partir disso, do que com as situações em si. Se distanciar é alcançar o equilíbrio entre evitar um pensamento e se deixar levar por ele.
Esse é o movimento para frente, e não mais para trás, para o lado ou ficar parado. Quando seus objetivos (aonde você quer chegar) e seus valores (que tipo de pessoa você quer ser) estão definidos, é possível realizar ações que são guiadas por eles – e não mais pela evitação que te controlava!
Ao determinar seu propósito, a sua perspectiva sobre o mundo, sobre si e sobre as suas ações ganham uma nova dimensão, ganham sentido. Se suas ações estão alinhadas com seus objetivos e valores, então você sabe que está no caminho certo e já consegue identificar, hoje, o progresso da sua caminhada.
Estar centrado(a) no presente é importante para os aspectos anteriores. Enquanto você está no passado (ruminação, arrependimento e culpa) ou no futuro (expectativas, ansiedade e preocupações), você não conseguirá estar Disponível, se Distanciar e realizar Ações de Compromisso. Isso não significa que o passado e o futuro não importam, mas quem não está aqui, não consegue agir agora.
Tratamentos específicos – psicologia e tratamento
- Sintomas
Desesperança/humor deprimido
A desesperança/humor deprimido pode ser considerada como o coração da depressão, por dialogar com os principais fatores e sintomas que a constituem.
Desesperança é tendência a desistir, não querer continuar, é quando você perde a esperança de que as coisas irão mudar. O passado parece ser um acúmulo de erros e fracassos, o que reforça ainda mais a sua certeza de que você é completamente inútil, insuficiente e incapaz de lidar com os próprios problemas e desafios. Por isso, o futuro é ameaçador, não há qualquer perspectiva de melhora.
Você gastou todas as suas energias para tentar controlar seus pensamentos e sentimentos mais amargos, mas eles sempre voltam. Eles voltam para te assombrar, e parece que não há nada que você possa fazer para eles desaparecerem.
Seu sofrimento te impede de continuar a sua jornada pela vida: ele é pesado demais e você já não aguenta mais a guerra de você com você mesmo(a). Não há motivos para acreditar que as coisas serão diferentes, porque você é incapaz de evitar o próprio sofrimento que te sufoca.
Considerando a dinâmica por trás da desesperança/humor deprimido, o TRATAMENTO será, em grande medida, a aplicação da Flexibilidade Psicológica. Se na ansiedade o futuro é visto como uma grande ameaça que está por vir, na desesperança o futuro é a certeza de um sofrimento sem fim.
Essa falta de esperança de um futuro melhor se dá porque você mesmo(a) acredita ser incapaz/insuficiente para lidar com o próprio sofrimento (pensamentos, sentimentos e situações desafiadoras), já que você tem fracassado constantemente em lidar com ele – fazendo com que você conclua que jamais conseguirá pôr um fim nisso.
Portanto, a aplicação da Flexibilidade Psicológica passa a ser indispensável na desesperança porque:
- Você precisa aprender a se distanciar e enxergar seus pensamentos e sentimentos de uma forma mais razoável, justamente porque o sofrimento ganha voz através deles;
- O acúmulo de fracassos está relacionado com uma estratégia equivocada em lidar com o sofrimento, que é tentar evitar ou controlar algo que aparece independente da sua vontade (pensamentos, sentimentos, lembranças e situações) para, só então, você começar a seguir o caminho que gostaria;
- A falta de definição de objetivos e valores leva à sensação de que você não consegue progredir em direção à vida que você gostaria de ter, justamente por não ter uma referência para realizar as próprias ações e identificar o seu progresso.
Perda de prazer e interesse (anedonia)
Anedonia é a perda de prazer ou interesse em diversas atividades, principalmente naquelas que você já gostava de fazer. Esse sintoma é bastante comum em pacientes com depressão e é um fator importante para a estagnação – deixar de realizar obrigações e ações que são importantes para a pessoa, fazendo com que ela se sinta inútil e sem progresso em diferentes áreas da vida.
Essa dificuldade no reconhecimento do prazer também está associada à indecisão em pessoas com depressão – não conseguir escolher o que mais lhe agrada por não conseguir sentir prazer ou recompensa antecipada.
O TRATAMENTO da perda de prazer e interesse se dá através da Ação de Compromisso, fazendo com que você tenha em mente seus objetivos e valores para guiar suas ações para uma vida mais significativa. Diversos estudos comprovam que realizar atividades que a pessoa considera importantes e de valor faz com que ela passe a sentir-se melhor, mais disposta e satisfeita com suas ações – resultando, gradativamente, na recuperação da sensação de prazer e recompensa. Para uma ação mais eficaz, outras estratégias são consideradas para aumentar as chances da Ação de Compromisso, como organização da agenda, sequência de atividades com maior probabilidade de execução e quebra de padrões de esquiva.
Como parte dessas ações voltadas para os objetivos e valores do paciente, a programação de atividades físicas durante a semana, lazer (aquilo que a pessoa se divertia fazendo antes, mesmo que não sinta mais tanto prazer) e o incentivo em manter relações sociais são muito importantes em pacientes deprimidos, já que esse estilo de vida faz parte não só da recuperação funcional, mas também da prevenção de novos episódios depressivos.
Pensamento de morte
A morte aparece como alternativa para uma dor sem fim, quando inúmeras tentativas de sair dessa situação não foram suficientes. A sensação é de fracasso, de inutilidade, de não ser suficiente para suportar e superar aquele monstro que vive em você. Alguns pensamentos aparecem, como: “Eu nunca vou conseguir sair disso”, “qual é o sentido de continuar tentando?”, “se eu morrer, pelo menos vou deixar de ser um peso para os outros”. Parece que o melhor que dá para fazer é tentar anestesiar a própria existência com álcool, drogas, tentar dormir, se distrair de si mesmo(a). Porém, essa estratégia causa mais danos a longo prazo – se funcionasse, esses pensamentos e sentimentos tão amargos teriam desaparecido.
Do pensamento de morte à tentativa de suicídio, algumas etapas podem ser observadas:
- Pensar em morrer de forma indireta (como em um acidente);
- Desejar se matar, mas sem planos ou intenção;
- Ter intenção de se matar, mas sem planejamento;
- Ter intenção de se matar, com plano de ação (carta, objetos e materiais, atualização do testamento etc.);
- Tentativa de suicídio.
Por isso, o TRATAMENTO para o pensamento de morte está no próprio tratamento da desesperança, já que é a partir da crença de não ser capaz de se livrar desse sofrimento que a falta de esperança aparece e, assim, o desejo de morte ganha força. O tratamento para desesperança se encontra no tópico Desesperança/humor deprimido.
Preocupação com o futuro (ansiedade)
Ansiedade, em si, não é algo ruim. Na verdade, ela faz todo sentido: no passado, se um leão aparecesse na sua frente, era bem útil você ficar com ansiedade e em alerta para conseguir correr ou lutar. Porém, hoje em dia o leão é a sua insatisfação, é o seu chefe, seu emprego, suas contas, um trauma, uma apresentação em público, ter de lidar com algumas pessoas. No fim, seu leão são seus pensamentos e sentimentos que surgem em certas situações. A ansiedade aponta para as consequências de um problema, se você será suficiente para “lidar com o leão”. É a preocupação em não dar conta e temer o que acontecerá com você e o seu futuro (sonhos, planos e objetivos).
A ansiedade passa a ser um problema quando você 1) se preocupa excessivamente com futuro por 2) acreditar que aquilo que você está pensando é uma verdade e que vai acontecer e, assim, 3) você acaba deixando de lado o que é mais importante hoje 4) só para tentar evitar certos pensamentos, sentimentos e situações. Frequentemente, essa evitação surge como uma “necessidade de controle da situação” – a tentativa de ter certeza do que vai acontecer pelo medo de não conseguir dar conta se algo fora do previsto ocorrer, por você acreditar ser incapaz/insuficiente/sem valor ou que irão te julgar dessa forma.
O TRATAMENTO para o excesso de preocupação com o futuro é, antes de mais nada, se situar no agora – não conseguir permanecer e agir no presente tem forte relação com a falta de prazer e concentração na depressão. Se preocupar com o que está por vir, se organizar e se planejar é extremamente válido e, por isso, o foco do tratamento não é descartar sua expectativa futura, mas conseguir integrá-la no presente para que suas escolhas estejam de acordo com seus objetivos e valores.
A ansiedade aparece como um alerta, um sinal de que algo ameaçador ou problemático está por vir (como um julgamento, crítica ou situação), fazendo com que você fique completamente mergulhado nesses pensamentos, se afogando em preocupações e não conseguindo fazer o que você gostaria por estar tentando controlar/evitar essa ansiedade — Por exemplo: talvez você deixe de impor limites aos outros para lidar com a preocupação de ser julgado(a).
Por isso, é necessário se distanciar desse fluxo de pensamentos que interpreta o futuro como uma catástrofe e afirma que você não é capaz de lidar com o que está por vir, para que seja possível avaliar de maneira razoável o que isso quer dizer sobre você, o que é possível ser feito e o que está fora do seu controle.
É muito IMPORTANTE entender que a ansiedade tem íntima relação com a depressão, porque em ambas há a presença de crenças sobre si e sobre o futuro. Quanto mais você pensa e acredita ser incapaz ou insuficiente, mais ameaçador é o futuro; quanto mais você acredita que o que está por vir é insuperável e ameaçador, mais incapaz/insuficiente você se sente – dinâmica que aumenta cada vez mais o seu nível de estresse, podendo levar à desesperança e DEPRESSÃO.
É por isso que a ansiedade e depressão caminham lado a lado, se potencializando – sendo justamente por esse motivo que trabalhar a Flexibilidade Psicológica nas duas condições é tão importante.
Ruminação do passado (culpa/arrependimento)
Onde estamos é consequência do que escolhemos fazer, considerando que até mesmo o “deixar de escolher” é, também, uma escolha. Por isso, quando você está insatisfeito(a) com a sua situação, onde você se encontra, para aonde você está indo e, principalmente, com caminhos que não são mais possíveis, olhar para o passado com culpa do que você fez e arrependimento das suas escolhas é inevitável.
O grande problema da culpa e arrependimento é quando você vive no passado, ruminando aquilo que deveria ter feito, pensando a todo momento “e se” tivesse feito diferente, deixando escapar quem você poderia estar sendo hoje. Viver no passado, em culpa, é ainda estar preso a um futuro que não é mais possível. O foco na culpa e arrependimento pode fazer com que você sinta medo de ter novos arrependimentos, causando ainda mais culpa – dinâmica que acaba levando à estagnação: você deixa de escolher para evitar mais arrependimento, fazendo com que você deixe de progredir em direção aos seus objetivos e, com o tempo, sinta ainda mais culpa por não estar se movimentando.
Deste modo, o TRATAMENTO para a ruminação em relação ao passado não é evitar pensar no passado, mas sim trabalhar como você pensa no passado. É importante perceber que uma vida sem erros, sem decisões equivocadas e, por isso, sem arrependimentos é uma vida sem aprendizados. Aquele que busca aprender e se desenvolver, não pode querer não errar ou não se arrepender. Assim, conseguir enxergar de forma razoável e compreensiva – o que não significa relevar ou “passar pano” – as escolhas do passado (qual era o contexto para você ter tomado a decisão que tomou) é fundamental para lidar com a culpa e as consequências das suas escolhas.
Porém, para que sejam efetivamente aprendizados, é necessário estar no momento presente, continuar a realizar as suas escolhas e que elas estejam de acordo com seus valores e direcionados aos seus novos objetivos – porque uma vida significativa não é apenas sobre ter o que se deseja, mas é estar sendo, hoje, quem você gostaria de ser.
A verdadeira culpa e arrependimento partem de ações que não estão em conformidade com os seus valores e objetivos.
Perturbações no sono
Dificuldades relacionadas ao sono são comuns em diversos transtornos e condições. Por exemplo:
- Insônia inicial (dificuldade para pegar no sono) é frequentemente associada a ansiedade;
- Insônia intermediária (acordar no meio da noite e demorar mais de 30 min para voltar a dormir) é comum em condições fisiológicas como a apneia obstrutiva do sono;
- Insônia terminal (quando a pessoa desperta cedo e não consegue voltar a dormir) e a hipersonia (sono excessivo durante o dia; necessidade de dormir horas a mais que o normal) são frequentes na depressão.
Porém, isso definitivamente não quer dizer que uma pessoa com ansiedade ou depressão não possa apresentar insônia intermediária, e nem que a hipersonia seja necessariamente depressão.
O ponto central é que problemas no sono tem um grande impacto na saúde mental, causando prejuízos na regulação emocional (dificuldade em gerenciar emoções), cognição (dificuldades em se concentrar, raciocinar e inibir comportamentos) e uma maior quantidade de pensamentos negativos (pessimismo em relação a si, ao mundo e ao futuro). As consequências desses prejuízos fazem com que você sinta muito mais estresse, ansiedade e irritabilidade durante o seu dia – um terreno fértil para a depressão.
Ainda, é de extremo valor perceber que os sintomas da depressão estão intimamente relacionados com esses prejuízos: dificuldade de concentração e cognição, desesperança, culpa, crenças negativas, pessimismo, fadiga/falta de energia/indisposição. É exatamente por esses motivos que trabalhar para ter um sono de qualidade é tão importante na depressão, porque estamos falando, ao mesmo tempo, sobre algo que aumenta as chances de novos episódios de depressão e que também piora os seus sintomas. Em outras palavras: perturbações do sono são parte da causa e da consequência da depressão.
Justamente por isso que o TRATAMENTO para perturbações no sono se dá em duas vias: condições que afetam o sono (como estresse, ansiedade e depressão) e práticas para aumentar a qualidade do sono.
Considerando que já abordamos nos tópicos acima o tratamento dos fatores que prejudicam o sono (ansiedade, estresse e depressão), mais abaixo abordaremos práticas que aumentam a qualidade do sono:
O QUE FAZER:
- Tenha um ritual para dormir: faça sempre as mesmas coisas (por exemplo: janta, toma banho, escova o dente, coloca o pijama). Durma e acorde sempre no mesmo horário, para que o seu corpo já tenha o hábito de “desligar” e “ligar” em momentos “programados”.
- Busque deixar o ambiente que você está dormindo entre 19 e 23 graus e escuro, já que a temperatura corporal e a falta de luminosidade são importantes sinalizadores para o corpo dormir. Dica: um banho quente ajudará no relaxamento muscular e ativará o processo de resfriamento corporal (vasodilatação periférica) após o banho, diminuindo a temperatura corporal.
- Utilize a cama primariamente para dormir, para que seu cérebro associe a cama como parte do seu ritual para dormir (e não com séries, filmes, vídeos ou trabalho).
- Ao acordar, busque a exposição à luz natural por 10-20 min, já que seu organismo interage com a luminosidade para regular o seu ritmo circadiano (dia = ficar desperto, atento. Noite = descanso, produção de hormônios do sono). A luz de lâmpadas ou aparelhos não chegam perto da quantidade de luminosidade dos raios solares – porém, não é necessário (e nem saudável) olhar diretamente para o sol ou “tomar sol”. Estar em um ambiente aberto que contenha a luz solar já é suficiente.
- Pratique atividade física durante o dia, por pelo menos 30 minutos, com intensidade moderada ou alta – que é quando você não consegue estabelecer um diálogo direito porque sua respiração está mais intensa e ofegante. O gasto de energia ajuda tanto na ansiedade quanto no cansaço noturno, promovendo um sono mais profundo.
O QUE NÃO FAZER:
- Reduza o consumo de cafeína e não ingira após às 15h (ou até antes, considerando que ela pode afetar seu organismo por até 12h, e dependendo do horário que você quer dormir). Ainda, você pode estar em um ciclo de cansaço > excesso de cafeína > sono prejudicado > cansaço > excesso de cafeína.
- Não coma muito antes de dormir e nem beba líquidos menos de 1 hora antes de dormir, para evitar desconfortos noturnos (estufamento e gases) e que você acorde durante a noite para urinar.
- Evite atividades que exijam concentração, raciocínio ou que gerem entusiasmo, bem como a luz azul (emitida por aparelhos eletrônicos) – apesar de a luz artificial não ser suficiente pela manhã, a noite ela pode atrapalhar a produção do hormônio do sono (melatonina).
- Se você está com dificuldades para dormir, não tire cochilos à tarde. Durante o dia, uma substância (adenosina) vai se acumulando no seu cérebro, aumentando a sua vontade de dormir (pressão de sono). Dormir à tarde “limpa” o acúmulo dessa substância.
- Não olhe o relógio de madrugada, quando você estiver com dificuldade para dormir. Quanto mais você olha, mais ansiedade você sente pela pressão de “ter que dormir logo por restar poucas horas de sono”, dificultando ainda mais pegar no sono.
- Outros
Traumas
Um trauma é um evento marcante que representou uma grande ameaça à sua integridade física e/ou psicológica. Um assalto, um relacionamento tóxico, um grave acidente (com você ou outra pessoa), humilhação ou assédio, uma traição (não apenas romântica), abandono ou rejeição. Após passar por uma situação intensa, o que o corpo e mente afirmam é uma coisa só: “esse acontecimento causou um grande dano, não podemos passar por isso novamente!”.
O comportamento da pessoa traumatizada é de evitar, a todo custo, reviver uma situação similar ao trauma, justamente por essa pessoa acreditar não ser capaz de suportar e lidar com uma experiência parecida – já que ela “não foi capaz” de lidar com a situação que gerou o trauma em si. Essa evitação, porém, faz com que você não consiga ter a vida que gostaria, porque você acaba tendo como prioridade fugir de qualquer possibilidade de reviver uma situação similar, ao invés de aproveitar o momento presente e viver o que é mais importante.
Assim, o trauma tem íntima relação com a depressão, porque ele é um grande sofrimento não superado que te impede de prosseguir com a sua vida, levando a sensação de insuficiência e estagnação. Ainda, o medo de entrar em contato com o conteúdo traumático acaba resultando em constante ansiedade e estresse, aumentando drasticamente a chance de depressão.
O primeiro passo para o tratamento do trauma é trabalhar na evitação – estratégia que apenas causa mais prejuízo à pessoa. Quanto mais você evita entrar em contato com o conteúdo traumático, mais você reforça o seu próprio trauma – ele se torna mais ameaçador, mais insuportável, fazendo com que você se sinta cada vez mais incapaz de lidar com ele e precise fugir ainda mais. Por isso, estar aberto(a) a entrar em contato, aos poucos, com o trauma (começando por pensamentos) é extremamente importante para conseguir lidar com ele.
Mas, para conseguir entrar em contato com o conteúdo traumático, é necessário que você aprenda a se distanciar dos próprios pensamentos – isto é, a sair do fluxo de pensamentos que afirma que você não é capaz de lidar com esse conteúdo, que isso sempre será assim e que será algo insuportável e insuperável. Esse distanciamento é o diferencial para que você consiga compreender que, apesar de fazer sentido o medo de viver certas situações, você não será impactado(a) da mesma forma que antes, porque o jeito com que você lida consigo mesmo(a) será diferente – você não é mais a mesma pessoa.
Dor e Depressão
Há uma íntima relação entre dor e depressão. Em resumo:
A dor é um fator de estresse para o corpo, e o estresse crônico está fortemente associado a causa da depressão. Por isso, pessoas com dor crônica tem 3 vezes mais chance de desenvolver depressão. Ainda, pessoas deprimidas sentem mais dor do que o normal, aumentando a tendência de uma pessoa sentir dores crônicas. Portanto, a depressão e a dor se potencializam: quanto mais dor, maior é a chance de depressão; quanto mais depressão, mais dor a pessoa sente.
Outros dois fatores importantes são a ansiedade e a insônia. A ansiedade não só aumenta a intensidade da dor que uma pessoa sente, como também causa rigidez muscular – podendo provocar ainda mais dor. A insônia – que pode ser consequência tanto da dor crônica quanto da ansiedade ou depressão – prejudica o sono e afeta as áreas do cérebro responsáveis pela regulação do comportamento e emoções, provocando o aumento de pensamentos negativos (pessimismo) e maior estresse no dia a dia.
[Para informações completas sobre o ciclo dor-depressão, clique aqui].
[Para mais informações sobre o tratamento de depressão, ansiedade e insônia, veja os tópicos acima]
Para o TRATAMENTO psicológico da dor, é importante saber sobre dois conceitos: Limiar e tolerância.
O limiar de dor é o tanto de estímulo necessário para que uma pessoa comece a sentir dor. Já a tolerância à dor é o quanto de dor uma pessoa consegue suportar até buscar alívio.
A expectativa futura é muito importante tanto para o limiar de dor quanto para a tolerância: quanto mais uma pessoa acredita que o que está por vir é uma catástrofe ou um grande sofrimento, mais dor essa pessoa sentirá e menos ela conseguirá suportá-la. É justamente por isso que a ansiedade e a depressão são responsáveis por aumentar a intensidade da dor, já que ambas contam com crenças negativas sobre si, o mundo e o futuro. Por isso, modificar como você se relaciona com os seus próprios pensamentos, crenças e verdades é fundamental no tratamento psicológico da dor. Aprender a lidar com pensamentos que dizem que “o futuro é ameaçador e terrível” e que “você não vai conseguir dar conta porque é incapaz/insuficiente” farão toda a diferença na intensidade das dores que você sente – quanto menos esses pensamentos te afetam, menor é a sua dor. É por isso que o tratamento para depressão/ansiedade também é um tratamento para dor, e o tratamento para dor também é um tratamento para depressão/ansiedade.
Ainda, para aumentar a tolerância à dor é muito importante trabalhar na evitação. Tentar evitar algo significa que você não está disposto(a) a entrar em contato com o desconforto que aquilo pode causar. Porém, quanto mais se tenta evitar algo, mais aquilo se torna uma grande ameaça, um inimigo que você suporta cada vez menos. Essa postura evitativa, então, acaba resultando em uma tolerância muito menor em relação a sua dor crônica – uma dor que você terá de conviver por um período prolongado.
Por isso, o TRATAMENTO psicológico diz respeito a você conseguir estar disponível para essa dor. Isso não quer dizer que você não pode buscar alívio, mas que você terá que aprender a se relacionar com essa dor de forma diferente, para que você consiga conviver com ela. Para isso, é necessário que você tenha em mente aquilo que é mais importante: seus objetivos e valores, aquilo que justificará suportar a dor e não mais tentar evitá-la e acabar se desviando do caminho que você gostaria de seguir – é justamente essa perspectiva que faz atletas conseguirem terminar uma prova, mesmo lesionados e com muita dor. No fim, é conseguir realizar ações apesar da dor e através do sofrimento, em direção a uma vida mais plena e significativa.
Aprofundamento
Onde está seu sofrimento?
Muito pior do que sentimentos e pensamentos, o seu pior sofrimento é ficar estagnado(a) na vida, não conseguindo chegar aonde você gostaria.
Pense o que você mais quer para a sua vida, seus principais objetivos: ver seus filhos saudáveis e independentes, ter uma carreira sólida, aproveitar seu tempo de lazer, ter um ótimo relacionamento, ter liberdade, bons amigos etc. Agora pense que tipo de pessoa você gostaria de ser: uma pessoa atenciosa, compreensiva, amorosa, prestativa, respeitosa, espontânea etc.
Não seriam essas coisas as mais importantes para você? aquilo que deixaria a sua vida muito mais significativa, a vida que você gostaria de estar vivendo hoje? E o que está te impedindo de seguir por este caminho? Provavelmente sua resposta será: a minha depressão; a minha ansiedade; alguns sentimentos que me derrubam (tristeza, remorso, culpa, raiva, medo, solidão); certos pensamentos que me desestabilizam; lembranças perturbadoras; a minha insegurança; minha baixa autoestima; meu chefe; minha família; aquela pessoa de tal lugar. Esse é o famoso: “só conseguirei ser feliz quando eu me livrar disso”.
O grande problema é que tudo o que você gostaria de estar vivendo está sendo impedido por algo completamente fora do seu controle, porque sentimentos, pensamentos/lembranças e comportamentos de outras pessoas não dependem da sua vontade. São experiências muito intensas que você não vê outro caminho a não ser tentar evitá-las. Com certeza você, recentemente, não fez algo que gostaria só para tentar não entrar em contato com algum pensamento ou sentimento. Você evitou situações que seriam importantes para você, por querer evitar algo desconfortável. Ou talvez você tenha feito algo que você se arrepende, apenas para se livrar de certos sentimentos e pensamentos – falou o que não devia, usou drogas, foi controlador(a), descontou na comida ou gastou o que não tinha para se livrar de alguma ideia ou sentimento desagradável.
Na sua cabeça vem o seguinte: se eu fizer isso (terminar um relacionamento, pedir ajuda, falar o que eu penso, estudar, ir me encontrar com alguém, me divertir, impor limites etc.), vou acabar pensando aquilo (que eu sou desagradável/inconveniente, incapaz, burro, inferior, fracassado, sem valor, que vou me arrepender, que vão me julgar etc.) e isso vai me deixar muito mal (triste, ansiosa, vulnerável, insegura, angustiada, impotente, sozinha etc.).
E agora? Se o que está fora do seu controle é justamente o que te controla, o que te resta fazer? Pois bem, a resposta é um tanto simples: que o seu caminho não seja determinado por aquilo que é incontrolável. É por isso que o Tratamento Especializado para Depressão trabalha na sua evitação – que é justamente a atitude que tem te afastado das coisas que mais te importam. O que você faz para aliviar o seu desconforto, também acaba te limitando viver tantas outras cosias. Para chegar aonde você gostaria, é necessário estar disposto(a) a lidar com aquilo que tem te desviado do seu caminho – quanto mais você evita, maior aquilo se torna.
Se você não precisasse evitar situações, pensamentos e sentimentos, não seria muito mais fácil sair da estagnação e focar no que mais importa? Se os leões da sua rua se transformassem em gatos, não seria bem mais possível sair para uma caminhada?
Verdades na depressão, pensamentos distorcidos
Seus pensamentos são como uma correnteza: se você mergulhar neles, você pode acabar sendo levado para um lugar que você não gostaria de ir…
Não nascemos com nenhuma crença, conhecimento ou verdade. Tudo aquilo que você acredita, sobre si ou sobre o mundo, foi aprendido durante a sua experiência de vida – com início na infância, em como te tratavam e como você percebia os outros e a si mesmo(a) a partir desse tratamento. Quando você acredita que suas crenças são verdades, elas se tornam lentes que distorcem tudo que você enxerga – você só consegue ver aquilo que reforça o que você já acredita. Talvez você já tenha conhecido uma pessoa em um relacionamento claramente tóxico que continuava na relação por acreditar que ela era o problema, que ela era insuficiente ou que nunca conseguiria alguém melhor – mesmo com tantas pessoas próximas afirmando o contrário.
Se você está em DEPRESSÃO, você provavelmente apresenta crenças do tipo: “eu sou incapaz”, “eu nunca vou conseguir”, “eu sou um fracasso completo”, “eu não presto para nada”, “eu não tenho futuro”, “não tem o que fazer, as coisas serão sempre assim’, “eu não tenho valor nenhum”, “eu sou um lixo de pessoa”, “ninguém nunca vai me querer”, “as pessoas se incomodam com a minha presença”, “ninguém se importa comigo”, “eu sou um peso para os outros”.
Você está convencido(a) que essas crenças são verdades e, por isso, você acaba vivendo de acordo: você nem tenta mais (não tem o porquê continuar tentando!), fracassa no pouco que tenta, se distancia cada vez mais das pessoas, perde o resto de ânimo e energia para cumprir com as suas obrigações, não tem vontade de fazer mais nada. Sua vida começa a ficar bem devagar, quase parando. Sua insatisfação com sua própria incapacidade de melhorar faz com que você fique constantemente olhando para trás, com culpa e arrependimento. Você não tem mais energia e não aguenta mais tentar escapar de si, dos seus pensamentos e sentimentos. Uma esmagadora ansiedade te acompanha, te dizendo que o futuro é terrível e afirmando que você não vai dar conta – assim como você não tem dado.
Agora pense: em que momento aquela pessoa que estava em um relacionamento tóxico acabou se dando conta do que estava acontecendo? Quando ela se distanciou daquilo que ela acreditava ser verdade! Fica muito mais fácil enxergar algo depois que você toma uma boa distância – que normalmente ocorre depois do término.
No Tratamento Especializado para Depressão, você aprende a se distanciar das suas crenças e navegar por elas. Seus pensamentos são como uma correnteza: se você mergulhar neles, você pode acabar sendo levado para um lugar que você não gostaria de ir! Por isso, você precisa aprender a: 1) sair da correnteza; 2) identificar o motivo dela estar lá e como ela pode te ser útil e, então, 3) navegar por ela. E o que tem do outro lado? seus sonhos e objetivos.
A grande mudança está em como você se relaciona com seus pensamentos, de modo que eles não te impeçam de viver aquilo que você gostaria. Não é sobre determinar o que é verdadeiro ou falso, é sobre conseguir enxergar o seu pensamento de forma razoável para então ter a atitude que você gostaria – porque o seu sofrimento tem muito mais a ver com aquilo que você acredita e o que você faz a partir disso, do que com as situações em si. Você compreenderá que até mesmo aquele seu pensamento mais negativo tem uma função, e que você não precisa brigar e nem se deixar levar por ele – então seus pensamentos e sentimentos deixarão de ser aquele monstro entre você e sua vida!
A felicidade do eu, aqui e agora
Apesar das tempestades e terremotos, o que você pode fazer hoje para ter a melhor vida possível?
É possível afirmar que o sofrimento é parte inerente e inevitável da vida – não há uma só pessoa que não tenha sofrido. Talvez você esteja passando por um momento muito difícil agora mesmo e isso está te consumindo. Na depressão, o pensamento e sentimento de impotência, incapacidade, fracasso, culpa e desesperança são fortes ingredientes para a sensação de estagnação diante do sofrimento. Mas, apesar desse seu sofrimento real, você já parou para se perguntar o que poderia ser feito hoje para se ter uma vida com mais qualidade e mais significativa?
A maioria das pessoas acreditam que para ser feliz é necessário chegar lá, ter o que sempre sonhou, atingir seus objetivos. Mas não é nem um pouco incomum a sensação de vazio após conquistarmos o que a gente sempre quis. Não só isso, raramente paramos para descrever e analisar o que realmente desejamos (e precisamos) ter e que tipo de pessoa queremos ser – o que deixa tudo muito mais difícil na hora de lidar com aquilo que mais temos medo: sem um bom motivo para enfrentar, a prioridade passar a ser evitar o que você mais teme (pensamentos, sentimentos e situações).
É por isso que o Tratamento Especializado para Depressão dá muita importância para os seus objetivos e valores, já que eles são a bússola que te direciona para onde ir e como realizar essa jornada. Seus objetivos são aonde você quer chegar, o que você quer ter, aquilo que você sonha em conquistar. Sem objetivos, você não tem norte, você não sabe para onde ir, você não tem destino – e, então, sua prioridade passa a ser evitar aquilo que você chama de monstro.
Já os seus valores são como você quer navegar, o jeito que você se conduz, a qualidade das suas ações. Sem valores, a vida se torna uma corrida atrás da outra que, enquanto você não cruzar a linha de chegada, você sentirá apenas frustração. Sua vida passa a ser uma grande frustração, seguida por uma breve satisfação, e então mais frustração até a próxima chegada. São os seus valores que irão guiar o que você faz e quem você está sendo hoje, garantindo que as suas escolhas tornem a sua vida mais significativa durante a sua caminhada em direção às suas conquistas.
Ciclo Vicioso da Depressão - do estresse à desesperança
Situações estressantes acabam gerando grande ansiedade, fazendo com que seu corpo libere um hormônio chamado cortisol. Quando você está constantemente ansioso(a) e estressado(a) – liberando cortisol a todo momento –, áreas do cérebro responsáveis pela regulação emocional, controle de impulsos e a sensação de recompensa/prazer são prejudicadas. Ainda, a qualidade do sono fica muito comprometida, dificultando ainda mais a regulação emocional e o gerenciamento do estresse, aumentando a quantidade de pensamentos negativos que você tem.
O ciclo começa quando, em um contexto estressante e incerto, uma pessoa acredita ser incapaz, inútil ou fracassada – ela dá mais peso para os fracassos, enxergando muito mais o que deu errado e esquecendo das próprias conquistas e superações. Quanto mais a pessoa acredita ser incapaz de lidar com os desafios que estão por vir, mais ela tenderá ao fracasso – se você acreditar ser estúpido(a) e que certamente irá falhar em uma prova, você se esforçará muito menos e desistirá muito mais rápido, aumentando drasticamente as chances de fracassar (e, quando fracassar, você pensará: “tá vendo só? eu sabia, eu sou burro(a) mesmo!”). Por isso, essa pessoa começará a enxergar o mundo como um lugar cheio de desafios que ela não é capaz de superar, fazendo com que ela lide cada vez pior com seus problemas e sinta cada vez mais ansiedade – o futuro é visto como ameaçador e problemático.
Agora voltamos para o começo do ciclo, só que de forma mais intensa: o excesso de ansiedade e estresse faz com que a pessoa sinta ainda menos prazer/recompensa e reconheça ainda menos as próprias conquistas, focando cada vez mais no negativo e se sentindo cada vez mais incapaz e insuficiente. O futuro é muito mais assustador e, com o tempo, o ciclo se repete que até essa pessoa comece a desistir de tentar, levando a estagnação e desesperança.
É muito importante perceber que, dependendo das crenças/verdades/certezas de uma pessoa, a chance de ela se estressar e ter ansiedade muda radicalmente. Muitas vezes, o contexto pode não ser estressante para outras pessoas, mas, para você, pode ser um enorme estressor – sendo necessário olhar não apenas para o ambiente, mas também para a sua interpretação do contexto.
O TRATAMENTO desse ciclo é a base do tratamento para depressão. Começando pelo estilo de vida: redução de estímulos estressantes, garantir uma boa qualidade de sono, ter uma boa alimentação, praticar regularmente exercício físico e ter uma boa rede de apoio (relações pessoais).
Já a parte psicológica diz respeito a Flexibilidade Psicológica: se distanciar das crenças sobre si, sobre o mundo e sobre o futuro, para que seja possível ter compreensões mais razoáveis e agir de acordo com os próprios objetivos e valores, sem precisar tentar controlar ou evitar pensamentos e sentimentos – tentativa que, frequentemente, causa mais ansiedade e sofrimento.
Referências
- A-Tjak, Jacqueline G. L., Morina, N., Topper, M., & Emmelkamp, Paul M. G. (2018). A Randomized Controlled Trial in Routine Clinical Practice Comparing Acceptance and Commitment Therapy with Cognitive Behavioral Therapy for the Treatment of Major Depressive Disorder. Psychotherapy and Psychosomatics, 87(3), 154–163. https://doi.org/10.1159/000486807
- Bair, M. J., Robinson, R. L., Katon, W., & Kroenke, K. (2003). Depression and Pain Comorbidity. Archives of Internal Medicine, 163(20), 2433. https://doi.org/10.1001/archinte.163.20.2433
- Banks, S. J., Eddy, K. T., Angstadt, M., Nathan, P. J., & Phan, K. L. (2007). Amygdala–frontal connectivity during emotion regulation. Social Cognitive and Affective Neuroscience, 2(4), 303–312. https://doi.org/10.1093/scan/nsm029
- Beygi, Z., Tighband Jangali, R., Derakhshan, N., Alidadi, M., Javanbakhsh, F., & Mahboobizadeh, M. (2023). An Overview of Reviews on the Effects of Acceptance and Commitment Therapy (ACT) on Depression and Anxiety. Iranian Journal of Psychiatry, 18(2). https://doi.org/10.18502/ijps.v18i2.12373
- Cimpean, A., & David, D. (2019). The mechanisms of pain tolerance and pain-related anxiety in acute pain. Health Psychology Open, 6(2), 205510291986516. https://doi.org/10.1177/2055102919865161
- Cimpean, A., & David, D. (2019). The mechanisms of pain tolerance and pain-related anxiety in acute pain. Health Psychology Open, 6(2), 205510291986516. https://doi.org/10.1177/2055102919865161
- Dean, J., & Keshavan, M. (2017). The neurobiology of depression: An integrated view. Asian Journal of Psychiatry, 27(27), 101–111. https://doi.org/10.1016/j.ajp.2017.01.025
- Forman, E. M., Herbert, J. D., Moitra, E., Yeomans, P. D., & Geller, P. A. (2007). A randomized controlled effectiveness trial of acceptance and commitment therapy and cognitive therapy for anxiety and depression. Behavior Modification, 31(6), 772–799. https://doi.org/10.1177/0145445507302202
- Fried, E. I., & Nesse, R. M. (2014). The Impact of Individual Depressive Symptoms on Impairment of Psychosocial Functioning. PLoS ONE, 9(2), e90311. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0090311
- Gotlib, I. H., & Joormann, J. (2010). Cognition and Depression: Current Status and Future Directions. Annual Review of Clinical Psychology, 6(1), 285–312. https://doi.org/10.1146/annurev.clinpsy.121208.131305
- Groeger, J. A., Lo, J. C.-Y. ., Santhi, N., Lazar, A. S., & Dijk, D.-J. (2022). Contrasting Effects of Sleep Restriction, Total Sleep Deprivation, and Sleep Timing on Positive and Negative Affect. ProQuest. https://doi.org/10.3389/fnbeh.2022.911994
- Hannibal, K. E., & Bishop, M. D. (2014). Chronic Stress, Cortisol Dysfunction, and Pain: A Psychoneuroendocrine Rationale for Stress Management in Pain Rehabilitation. Physical Therapy, 94(12), 1816–1825. https://doi.org/10.2522/ptj.20130597
- Harrington, M. O., & Cairney, S. A. (2021). Sleep Loss Gives Rise to Intrusive Thoughts. Trends in Cognitive Sciences, 25(6), 434–436. https://doi.org/10.1016/j.tics.2021.03.001
- Harvard Medical School. (2021, October 1). Sleep and Mood. Sleep.hms.harvard.edu. https://sleep.hms.harvard.edu/education-training/public-education/sleep-and-health-education-program/sleep-health-education-87
- Hayes, A. M., & Andrews, L. A. (2020). A complex systems approach to the study of change in psychotherapy. BMC Medicine, 18(1). https://doi.org/10.1186/s12916-020-01662-2
- Hayes, S. C., Strosahl, K. D., & Wilson, K. G. (2012). Acceptance and commitment therapy: The process and practice of mindful change(2nd ed.). Guilford Press.
- Hermesdorf, M., Berger, K., Baune, B. T., Wellmann, J., Ruscheweyh, R., & Wersching, H. (2016). Pain Sensitivity in Patients With Major Depression: Differential Effect of Pain Sensitivity Measures, Somatic Cofactors, and Disease Characteristics. The Journal of Pain, 17(5), 606–616. https://doi.org/10.1016/j.jpain.2016.01.474
- Hofmann, S. G., & Hayes, S. C. (2018). Functional Analysis Is Dead: Long Live Functional Analysis. Clinical Psychological Science, 7(1), 63–67. https://doi.org/10.1177/2167702618805513
- Hofmann, S. G., & Hayes, S. C. (2018). The Future of Intervention Science: Process-Based Therapy. Clinical Psychological Science, 7(1), 37–50. https://doi.org/10.1177/2167702618772296
- Hofmann, S. G., Curtiss, J., Carpenter, J. K., & Kind, S. (2017). Effect of treatments for depression on quality of life: a meta-analysis. Cognitive Behaviour Therapy, 46(4), 265–286. https://doi.org/10.1080/16506073.2017.1304445
- John Hopkins Medicine. (2019, June 25). Depression and Sleep: Understanding the Connection. Johns Hopkins Medicine. https://www.hopkinsmedicine.org/health/wellness-and-prevention/depression-and-sleep-understanding-the-connection
- Joyce, P. R., McKenzie, J. M., Carter, J. D., Rae, A. M., Luty, S. E., Frampton, C. M. A., & Mulder, R. T. (2007). Temperament, character and personality disorders as predictors of response to interpersonal psychotherapy and cognitive-behavioural therapy for depression. British Journal of Psychiatry, 190(6), 503–508. https://doi.org/10.1192/bjp.bp.106.024737
- Kalin, N. H. (2020). The Critical Relationship between Anxiety and Depression. American Journal of Psychiatry, 177(5), 365–367. https://doi.org/10.1176/appi.ajp.2020.20030305
- Kanter, J. W., Baruch, D. E., & Gaynor, S. T. (2006). Acceptance and Commitment Therapy and Behavioral Activation for the Treatment of Depression: Description and Comparison. The Behavior Analyst, 29(2), 161–185. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2223147/
- Kendler, K. S., Karkowski, L. M., & Prescott, C. A. (1999). Causal Relationship Between Stressful Life Events and the Onset of Major Depression. American Journal of Psychiatry, 156(6), 837–841. https://doi.org/10.1176/ajp.156.6.837
- Klein, D. N., Kotov, R., & Bufferd, S. J. (2011). Personality and Depression: Explanatory Models and Review of the Evidence. Annual Review of Clinical Psychology, 7(1), 269–295. https://doi.org/10.1146/annurev-clinpsy-032210-104540
- Lee, M. T., Peng, W.-H., Kan, H.-W., Wu, C.-C., Wang, D.-W., & Ho, Y.-C. (2022). Neurobiology of Depression: Chronic Stress Alters the Glutamatergic System in the Brain—Focusing on AMPA Receptor. Biomedicines, 10(5), 1005. https://doi.org/10.3390/biomedicines10051005
- Marchetti, I., Alloy, L. B., & Ernst. (2023). Breaking the Vise of Hopelessness: Targeting its Components, Antecedents, and Context. https://doi.org/10.1007/s41811-023-00165-1
- Marchetti, I., Alloy, L. B., & Ernst. (2023). Breaking the Vise of Hopelessness: Targeting its Components, Antecedents, and Context. https://doi.org/10.1007/s41811-023-00165-1
- McGlinchey, J. B., Zimmerman, M., Young, D., & Chelminski, I. (2006). Diagnosing Major Depressive Disorder VIII. Journal of Nervous & Mental Disease, 194(10), 785–790. https://doi.org/10.1097/01.nmd.0000240222.75201.aa
- Morales, J., Yáñez, A., Fernández-González, L., Montesinos-Magraner, L., Marco-Ahulló, A., Solana-Tramunt, M., & Calvete, E. (2019). Stress and autonomic response to sleep deprivation in medical residents: A comparative cross-sectional study. PLOS ONE, 14(4), e0214858. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0214858
- Newsom, R., & Dimitriu, A. (2020). Depression and Sleep. Sleep Foundation. https://www.sleepfoundation.org/mental-health/depression-and-sleep
- Nollet, M., Wisden, W., & Franks, N. P. (2020). Sleep deprivation and stress: a reciprocal relationship. Interface Focus, 10(3), 20190092. https://doi.org/10.1098/rsfs.2019.0092
- Staner, L. (2010). Comorbidity of insomnia and depression. Sleep Medicine Reviews, 14(1), 35–46. https://doi.org/10.1016/j.smrv.2009.09.003
- Sullivan, P. F., Neale, M. C., & Kendler, K. S. (2000). Genetic epidemiology of major depression: Review and meta-analysis. American Journal of Psychiatry, 157(10), 1552–1562. https://doi.org/10.1176/appi.ajp.157.10.1552
- Tafet, G. E., & Nemeroff, C. B. (2015). The Links Between Stress and Depression: Psychoneuroendocrinological, Genetic, and Environmental Interactions. The Journal of Neuropsychiatry and Clinical Neurosciences, 28(2), 77–88. https://doi.org/10.1176/appi.neuropsych.15030053
- Teasdale, J. D. (1983). Negative thinking in depression: Cause, effect, or reciprocal relationship? Advances in Behaviour Research and Therapy, 5(1), 3–25. https://doi.org/10.1016/0146-6402(83)90013-9
- Thimm, J. C., Holte, A., Brennen, T., & Wang, C. E. A. (2013). Hope and expectancies for future events in depression. Frontiers in Psychology, 4. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2013.00470
- Uphoff, E., Ekers, D., Robertson, L., Dawson, S., Sanger, E., South, E., Samaan, Z., Richards, D., Meader, N., & Churchill, R. (2020). Behavioural activation therapy for depression in adults. Cochrane Database of Systematic Reviews, 7(7). https://doi.org/10.1002/14651858.cd013305.pub2
- Woo, A. K. (2010). Depression and Anxiety in Pain. Reviews in Pain, 4(1), 8–12. https://doi.org/10.1177/204946371000400103
- Woo, A. K. (2010). Depression and Anxiety in Pain. Reviews in Pain, 4(1), 8–12. https://doi.org/10.1177/204946371000400103
- Yang, L., Zhao, Y., Wang, Y., Liu, L., Zhang, X., Li, B., & Cui, R. (2015). The Effects of Psychological Stress on Depression. Current Neuropharmacology, 13(4), 494–504. https://doi.org/10.2174/1570159×1304150831150507
- Zhang, M., Zhang, Y., & Kong, Y. (2019). Interaction between social pain and physical pain. Brain Science Advances, 5(4), 265–273. https://doi.org/10.26599/bsa.2019.9050023